O pai do meu pai

Avô, para muitas pessoas, pode ter sido uma mera identidade desconhecida. Para mim, acho que a minha presença na sua ausência danificaria o lado afetivo e sentimental do meu ser. Álvaro Jorge Spínola é o nome do meu grande ídolo, um homem que soube escolher e criar uma família unida e amada. Não sei grandes pormenores sobre o seu passado, apenas que frequentou o exército e que era muito cobiçado pelas meninas. No entanto, a premiada foi a minha avó e acredito fielmente que ele não poderia ter ficado melhor entregue. Pobre homem, a sua inocência e ingenuidade nada lhe ensinaram sobre as regras de sobrevivência deste mundo selvagem.

Apesar das contrariedades da natureza, o meu avô nunca perdeu a sua imponência e ar juvenil agora envelhecido. O meu pai diz que muitas foram as vezes em que o pai bateu os filhos de correia. Embora tivesse sido grande parte da sua vida distante, destemido e rigoroso, a verdade é que essa sua faceta nunca chegou a ser conhecida por mim ou qualquer uma das minhas irmãs e primos. A figura que nos foi dada a saber foi a de um homem que lutou pela vida e que faria qualquer esforço pela família que criou. Ao “meu velho” (como lhe chamava a minha avó) os anos não lhe bateram à porta. A mãe diz que eu sou toda sua e que os seus genes ficaram altamente protegidos para serem meus. Dotado de um par de formosas safiras, as únicas até hoje invejadas pelos mares. Meu antecessor de pequenos dentes de marfim com cabelo que outrora russo decidiu converter-se à paz. Nunca me esquecerei dele.

Quero explorar o mundo como o seu corpo hercúleo o fez, quero ganhar aquele sentido apurado para escolher as melhores frutas como ele o faz, quero herdar a sua sabedoria, quero poder ver o que os seus olhos já viram. Eu sou um dos seus legados, aquele que guardará para sempre a sua existência. Ensinou-me a ser corajosa, educou-me com carinho e espero poder despertar orgulho no sangue que me corre nas veias.

Maria Carlota Spínola

10º 44

Deixe um comentário